REUTERS/Hannah Mckay
O sonho do hexacampeonato foi adiado em mais quatro anos para
o torcedor brasileiro. A seleção perdeu o duelo complicado contra a Croácia
nesta sexta-feira (9), em Doha, no Catar, por 4 a 2 nos pênaltis (empate sem
gols no tempo normal e 1 a 1 na prorrogação) e está de novo eliminada nas
quartas de final da Copa do Mundo. No estádio Cidade da Educação, a Canarinho
não conseguiu acabar com o fantasma diante de europeus nessa altura da competição.
A partida da semi acontecerá na terça no
principal estádio do Mundial.
Desde 2002, quando ficou com o pentacampeonato, a seleção
brasileira não vence um rival europeu nas quartas. Bateu a Turquia (no Mundial
Japão e Coreia 2002), mas parou França (Alemanha 2006), Holanda (África do Sul
2010), Alemanha (Brasil 2014) e Bélgica (Rússia 2018).
Nas cobranças de pênaltis, Rodrygo (goleiro defendeu),
Casemiro, Pedro Marquinhos (trave) bateram para os pentacampeões. Do lado
croata, Vlasic, Majer, Modric e Orsic cobraram, todos com perfeição, para os
atuais vice-campeões mundiais.
As coisas pareceriam boas para o Brasil apesar dos 90
minutos, e um pouco mais, bastante complicados. Neymar marcou para o Brasil no
último minuto do priemiro tempo da prorrogação e a coisa parecia decidida. O
problema é que a Croácia jamais desistiu de brigar, e Petkovic empatou no
finalzinho do segundo tempo.
Um dos pontos fortes do time verde-amarelo, a defesa foi pela
primeira vez efetivamente testada diante de um meio-campo pra lá de técnico
como o de Kovacic, Brozovic e o duas vezes melhor do mundo Modric. Era como se
a equipe brasileira estivesse incomodada com a pressão na saída de bola e se
permitisse erros bobos contra a capacidade de organização que vinha pela
frente. Casemiro protegeu bem o meio-campo e ganhou sustentação com Éder
Militão e Danilo nas laterais. Perisic teve as melhores chances, mas furou e
mandou outra para longe no primeiro tempo.
A melhor saída para os comandados de Tite, e também como pede
o sempre exigente futebol brasileiro, era atacar. Na caneta de Neymar, no
drible de Vini Jr. e na raça de Richarlison, a equipe bem que criou as suas
chances. Faltou um tanto de capricho na finalização. A lateral-esquerda,
preocupada em segurar os avanços do adversário, não era uma opção no ataque.
Logo nos primeiros minutos da etapa complementar, os
jogadores brasileiros reclamaram de um toque de mão de Juranovic após um longo
cruzamento. Na jogada, Vini Jr. ainda continuou o lance, tocou para Neymar, que
chutou e o goleiro Livakovic pegou. No VAR, o árbitro inglês Michel Oliver não
só não deu mão como também assinalou impedimento em uma jogada que pouca gente
entendeu.
A equipe parecia crescer de produção, mas Tite não entendeu
bem assim. Raphinha, que realmente estava apagado, deu lugar a Antony; mas,
logo depois, Vini Jr. saiu para a entrada de Rodrygo. O jovem criou boas
jogadas, e Neymar ainda foi parar duas vezes na cara do gol. Melhor para o
goleiro Livakovic, que ainda pegou um chute forte de Paquetá. Todas as demais
substituições acabaram sendo demasiadamente previsíveis.
Lá por volta do fim do tempo regulamentar, o Brasil pareceu
mais disposto a ganhar o jogo. Ainda que fosse na base da “raça e do coração”
como gritava a torcida brasileira, maioria dos 43.893 torcedores, no Cidade da
Educação. E faltou mesmo organização, talvez até um pouco de alternativa
tática. Pedro entrou no lugar de Richarlison e a partida foi para a
prorrogação.
Croácia guerreira
País forjado em guerras, que se separou da Iugoslávia em
1991, a Croácia tem a valentia como a sua marca registrada. Tanto que essa foi
a quinta prorrogação da equipe nos últimos seis jogos de mata-mata. Do lado do
Brasil, a última prorrogação havia sido nas oitavas de final contra ho Chile,
há oito anos. Foram mais trinta minutos de um intenso futebol.
Brozovic perdeu a bola do jogo para a Croácia de um lado,
quando não tocou para Modric, em um contra-ataque rápido do time da icônica
camisa quadriculada. Na outra ponta, Antony aprontou para cima da defesa e
irritou os adversários. A partida parecia caminhar tudo igual, mas aí surgiu
Neymar.
Neymar empata em gols com Pelé
Já no último minuto do primeiro tempo da prorrogação (desde
2002 sem o gol de ouro), Neymar resolveu apagar o jogo só razoável que vinha
tendo. O jogador honrou o 10 às costas, procurou uma tabela com Lucas Paquetá e
saiu na cara do goleiro que havia sido o seu carrasco durante todo o jogo. Com
a tranquilidade de sempre, ainda teve tempo para se livrar do arqueiro e marcar
o gol.
O gol foi o segundo do jogador nesta Copa do Mundo. Machucado
ainda na abertura contra a Sérvia, ele ficou de fora das partidas seguintes
contra Suíça e Camarões. Então recuperado de uma entorse no tornozelo direito,
marcou contra a Coreia do Sul e decidiu o jogo contra a Croácia. Mais do que
isso, o tento valeu a marca histórica de igualar Pelé como o maior artilheiro
da história da Canarinho: 77 gols em 124 jogos (o Rei do Futebol tem 32
partidas a menos).
Mais gol no finalzinho
A partida ainda reservava outro gol nos minutos finais, desta
vez, do segundo tempo e da Croácia. Petkovic aproveitou uma rápida jogada dos
companheiros, arriscou para o gol e contou com um desvio de Marquinhos para
vencer o goleiro Alisson. Foi a primeira vez que a torcida brasileira se calou
no estádio. E não era para menos. A decisão por pênaltis estava por vir.
Em falta cobrada por Neymar na área, Marquinhos brigou pela
bola e Casemiro teve a chance. O volante chutou forte, mas o goleiro pegou mais
uma vez. No rebote, Gvardiol ainda tirou de cabeça mesmo sentado no chão em um
lance marcante, que realmente simbolizou o que significa a Croácia.
Nos pênaltis, os croatas não desperdiçaram nenhuma cobrança
apesar do bom posicionamento de Alisson. Rodrygo e Marquinhos perderam para o
Brasil. No final, festa dos croatas celebrando ainda dentro de campo, e
brasileiros em lágrimas, sendo consolados pela torcida. Neymar e Richarlison
eram os mais emotivos.
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